Escrever a história das mulheres
brasileiras cientistas é reconhecer que a participação feminina foi e é
fundamental para o avanço do conhecimento. Estas pioneiras abriram as portas:
do saber e do poder. Do saber, porque cada uma delas teve um importante papel
para sua área de conhecimento. Do poder, porque provaram que as mulheres não
são só aptas para a ciência quanto esta não pode prescindir de sua
contribuição.
Esta é uma proposta inicial de visibilizar a história das mulheres
pesquisadoras. O CNPq agradece às pesquisadoras Hildete Pereira de Melo e Ligia
M. C. S. Rodrigues.
BLANKA WLADISLAW (1917 - 2012)
Química
Nasceu na Polônia no dia 3 de junho de 1917 e aos 14 de idade
emigrou para o Brasil com os pais, indo morar em São Paulo. Nos primeiros anos,
a família passou por dificuldades financeiras, mas Blanka dedicou-se aos
estudos com afinco, pois tinha o propósito de ingressar na universidade.
Iniciou o curso de Química na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP
em 1937, graduando-se em 1941. Blanka iniciou sua vida profissional trabalhando
dois anos nas Indústrias Matarazzo, mas logo voltou a estudar com o objetivo de
doutorar-se. Em 1948 tornou-se assistente do professor Heinrich Hauptmann no
Departamento de Química daquela faculdade. Em 1949 doutorou-se em química pela
USP sob a orientação do professor Hauptmann, com uma tese sobre novas reações
no campo de compostos de enxofre. Nesse mesmo ano foi contratada como auxiliar
de ensino da cadeira de Química Orgânica e Biológica da Faculdade de Filosofia
da USP e em 1953 tornou-se professora assistente em regime de tempo integral.
Ainda na década de 50, permaneceu um
ano fazendo um pós-doutorado no Imperial College of Science and Technology, em
Londres, como bolsista do Conselho Britânico. Durante esse ano trabalhou em
eletrossíntese orgânica, assunto distinto dos seus trabalhos anteriores. Ao
voltar ao Brasil, continuou a pesquisas nessa área e defendeu uma tese de
livre-docência em 1958 com o título “Síntese e estudo dos homólogos inferiores
do ácido 6,8-tioctico”.
Durante a década de 60, Blanka continuou
trabalhando preferencialmente em eletroquímica orgânica, mas sem abandonar a
química dos compostos do enxofre. A partir de 70, voltou a concentrar seu
trabalho nos compostos de enxofre.
Em 1971 foi aprovada no concurso para
professora titular do Instituto de Química da USP e em 1975 passou a chefiar o
Departamento de Química Fundamental do referido Instituto.
Blanka possui um impressionante curriculum:
115 trabalhos de pesquisa publicados em revistas brasileiras e internacionais,
171 trabalhos apresentados em congressos, orientou 4 dissertações de mestrado e
24 teses de doutorado. Além dessa enorme contribuição à pesquisa, também é
grande sua contribuição ao ensino da Química, como prova a homenagem que lhe
prestaram os alunos de graduação em Química, em 1993, ou seja, 6 anos após sua
aposentadoria compulsória, ainda era lembrada pelo corpo discente. Blanka foi
também objeto de muitas honrarias. Foi eleita, em 1974, membro da Academia de
Ciências de São Paulo; em 1973, membro titular da Academia Brasileira de
Ciências, da Associação Brasileira de Química, da Sociedade de Química de
Londres e da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência; é membro da Royal
Society of Chemistry (MRSC). Recebeu prêmios e comendas nacionais e
estrangeiras, entre os quais a Ordem Nacional do Mérito Científico e o Prêmio
Rheimboldt-Hauptmann.
A qualidade e a quantidade de seu
trabalho possibilitaram que fosse membro do corpo editorial das revistas
Arkivoc (Arat, U.S.A. Foundation) e Phosphorus, Sulfur and Silicon and The
Related Elements. É bolsista 1 A do CNPq.
Blanka foi aposentada compulsoriamente da
USP em 1987, mas continuou a trabalhar, coordenando o Laboratório de Sínteses
Orgânicas da citada universidade.
Faleceu, em São Paulo, no dia 26 de janeiro
de 2012. Admirada respeitada pelos seus pares por ocasião de seu falecimento
Hans Viertler (IQ-USP) afirmou “exemplo de dedicação acadêmica, um paradigma a
ser seguido pelas novas gerações...foi uma acadêmica que com competência e amor
ao trabalho, gerou ciência, deixou escola e educou gerações”.